Contradições
Estive há poucos dias em Cabo Verde numa feira do livro – a Festa da Palavra – em representação da Leya e a convite do Ministério da Cultura de Cabo Verde. Era uma feira relativamente pequena numa rua do centro da Cidade da Praia, o chamado Plateau; e, apesar de haver bastantes alunos de escolas secundárias nos colóquios que paralelamente se realizavam na Biblioteca Nacional, a verdade é que no recinto da feira não se via muita gente a comprar (nem mesmo a ver) e a quantidade de títulos disponíveis de livros «locais» era bastante reduzida (havia sobretudo autores considerados clássicos, muitos deles também publicados em Portugal, e livros de ensaio apoiados por organismos oficiais, mas nada de realmente novo). E, porém, 98% da população do arquipélago é alfabetizada, o que podia significar muitos potenciais leitores. Mas não: ou porque os livros são caros, ou porque não há ainda uma cultura da leitura, nem sequer na escola, os cabo-verdianos não compram nem lêem livros com regularidade. Aparentemente uma contradição, esta situação mostra que ter os instrumentos não chega para ser leitor. Porventura, faltam ainda incentivos – como o do preço acessível e a constituição de bibliotecas escolares – e o estímulo que as famílias de não leitores e os professores sem hábitos de leitura ainda não conseguiram dar.