Sair do armário
Durante muito tempo, os académicos inibiram-se de escrever romances históricos. Numa ficção, o rigor é evidentemente importante e tem de se ter especial cuidado para evitar asneiras e anacronismos; mesmo assim, a ficção permite pequenas liberdades que a escrita ensaística não autoriza e, quiçá temendo a crítica dos pares, raramente os historiadores portugueses se atreveram ao subgénero literário do romance histórico. Num debate na última Feira do Livro do Lisboa, percebi, porém, que as coisas estão claramente a mudar. João Paulo Oliveira e Costa, professor catedrático na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, saiu do armário e escreveu dois romances em dois anos (O Império dos Pardais e O Fio do Tempo). E o mesmo aconteceu a João Pedro Marques, um historiador doutorado por aquela mesma universidade, que também se estreou em 2010 com o romance Os Dias da Febre e chegou agora aos top de venda com o seu mais recente Uma Fazenda em África, que tem um título bem sugestivo e uma capa que pisca o olho ao famoso Equador, de Miguel Sousa Tavares. Não li ainda nenhuma das obras para ver se falta aos especialistas talento para contar onde lhes sobra informação. Mas é um bom sinal que ponham os seus conhecimentos ao serviço do público leitor, já que há muitas obras de cariz histórico que mostram preguiça em investigar e trazem erros de pôr os cabelos em pé. Vamos lá ver se outros se atrevem.