Desistir?
Há uns tempos, António Lobo Antunes (70 anos) avisou os seus leitores de que, embora não deixe provavelmente de escrever, não publicará mais nenhum livro além dos que tem já começados ou terminados (mesmo que ainda não tenham saído): um romance e um livro de crónicas. Pouco depois, foi a vez de o autor amado por muitos leitores deste blogue, Philip Roth (79 anos), vir dizer, numa entrevista em França concedida à revista Les Inrocks, que Nemesis foi o seu derradeiro romance, que há três anos não escreve uma linha de ficção e que tem estado apenas a organizar os seus arquivos para a biografia que lhe será dedicada, pois quer entregar todo o material em vida ao seu biógrafo (não escreverá ele próprio as memórias, como inicialmente se terá pensado). Logo a seguir, o húngaro Imre Kertész (83 anos), que ganhou o Nobel da Literatura em 2002 e tem alguns romances traduzidos em Portugal (Sem Destino é o mais conhecido e foi interpretado pelos críticos como autobiográfico), anunciou que não tenciona voltar a escrever, uma vez que acha ter esgotado o assunto que percorre toda a sua obra (o Holocausto – Kertész foi um dos sobreviventes dos campos de concentração). Que levará um escritor a desistir de fazer o que fez ao longo de uma vida ou a privar quem o lê dos seus últimos escritos? Cansaço – sobretudo no caso de Kertész, a idade pesará? Desencanto com o público? Desejo apenas de se livrar de compromissos, pressões dos editores e leitores, aparições em público (não creio que Roth saísse muito de casa, segundo li, mas nunca se sabe)? Enfim, uma perda para quem gosta de os ler, mas certamente um bom tema para nele reflectirmos todos a partir de agora.