Mais velhos e mais novos
Os escritores mais novos sabem, regra geral, quem são os escritores mais velhos. Amem-nos ou detestem-nos, já viram as suas caras em fotografias e cumprimentam-nos manifestando a sua admiração ou escondendo a sua impressão negativa e reduzindo-se a epígonos ou meros principiantes de uma arte comum. Alguns escritores mais velhos lêem o que os mais novos escrevem (poucos) e estimulam-nos (menos ainda), escrevendo textos críticos em suplementos literários e indicando as suas obras para prémios quando fazem parte do júri. Outros (a maioria) não fazem a mais pequena ideia de quem veio depois deles, nem mostram qualquer interesse em saber quem ficará a escrever no seu país quando, fatalmente, partirem deste mundo. É, por isso, irónico que sejam justamente os primeiros a criar, por vezes, situações melindrosas como a que conto a seguir. Quando o Salon du Livre de Paris dedicou o ano de 2000 à literatura portuguesa, deslocaram-se à Cidade-Luz para cima de 40 escritores lusófonos. Na primeira tarde, no hotel onde todos se instalaram, a inteligente Agustina apresentou-se positivamente a todos, um por um, ficando a saber quem era quem e imune a gaffes de qualquer tipo. Um outro escritor da sua idade foi, porém, menos hábil. Ficando eu sentada no autocarro que nos levaria do hotel à mairie entre ele e o Pedro Rosa Mendes (que publicara há pouco o seu primeiro livro), logo me perguntou se eu, como editora, não mandava ler livros fora, pois tinha uma filha que realizava essa tarefa para uma outra chancela, mas ela ainda ficava com tempo livre e poderia, quiçá, colaborar comigo. Tudo bem se não tivesse acrescentado: «Ainda agora ela leu um livro do Goytisolo, uma coisa tipo Baía dos Tigres, mas em bom.» Quem mais corou fui eu.