Road novel mas não só
Francisco Camacho estreou-se na ficção com um romance notável intitulado Niassa, que convocou o aplauso da crítica e arrecadou o Prémio do PEN para Primeira Obra no ano em que foi lançado. Fez uma pausa algo demorada, mas regressa agora com uma road novel singular e fascinante que suspeito venha a ter um destino semelhante à anterior. Chama-se A Última Canção da Noite e traz à cena duas personagens masculinas inesquecíveis: o guitarrista britânico Jack Novak, que era a alma de uma banda de sucesso e despareceu na Roménia durante uma tournée em condições misteriosas, dando origem a muita especulação; e o crítico de música português caído em desgraça David Almodôvar, que foi vítima de uma acusação de plágio (de que não se conseguiu defender decentemente), do desemprego que essa circunstância acabou por provocar (era a estrela de uma agência de publicidade) e de uma história de amor que se interrompeu quando o romance começa – com a existência de uma carta deixada pela mulher com quem vivia, Vera, que constitui mais um desafio do que uma declaração de abandono. Os dois homens acabarão por juntar-se e tornar-se cúmplices durante uma viagem a Marrocos, na qual os leitores serão ajudados a desvendar os mistérios criados pelo romancista, com a promessa de grandes surpresas que passam até por uma guerra que encheu as parangonas dos jornais não faz muito tempo. E eu também prometo umas horas muito bem passadas com A Última Canção da Noite, um romance com diálogos admiráveis, muito cinematográfico, de que se podia fazer por acaso um grande filme. A ler, absolutamente.