O botequim de Natália Correia
Já sou suficientemente antiga para ter frequentado um bar ali à Graça chamado Botequim, cuja mestra-de-cerimónias, por assim dizer, era Natália Correia com a sua longa boquilha. Fui lá ainda universitária com o meu pai, que gostava bastante da boémia, e mais tarde, já a trabalhar na edição, para assistir a um lançamento de um livro de Javier Marías (Todas as Almas, que, aliás, recomendo a quem não tiver lido). Acho que não voltei lá, mas sei que por ali passou muita gente interessante, mesmo que nem sempre tão interessante como a patronne, que era uma mulher directa, impagável e espirituosa como houve poucas em Portugal. Ora, o jornalista e escritor Fernando Dacosta publicou recentemente O Botequim da Liberdade, que fará decerto as delícias de quem frequentou o local e poderá, com a ajuda da obra, recordar e rever muita coisa que esqueceu; e, por outro lado, é um excelente fresco desse bar mítico e da sua grande dama, que ajudará os que não tiveram oportunidade de o conhecer a fazer uma pequena ideia da sua importância nesses tempos de tertúlias e encontros de intelectuais (com muito álcool e tabaco à mistura). Irresistível, portanto.