Paradoxos
Há muitos anos, na primeira editora em que trabalhei (e que era, nesse tempo, uma editora especialmente apostada na divulgação científica), publicou-se numa série dedicada à matemática um livro muito interessante chamado Círculos Viciosos e Infinito: Uma Antologia de Paradoxos. Deveria ter sublinhado círculos (faço-o agora), tantas vezes ouço e leio erradamente a palavra «ciclos» dita e escrita por gente que tinha obrigação de conhecer a expressão «círculo vicioso». Nesse livrinho, em todas ou quase todas as páginas, havia, à laia de cabeçalho, um paradoxo – e aquele que melhor recordo, por ser o mais cómico, era da autoria de um senhor chamado George Moore, creio que filósofo, e dizia: «What are husbands for, but to keep our mistresses?» Bem visto. O paradoxo em geral sempre me interessou – e há coisas também paradoxais na nossa língua, como o facto de «executar» significar «fazer, realizar», mas também poder ser o fim desse fazer e realizar quando se executa alguém. E ainda mais estranho encontro o verbo «sancionar», que serve a um tempo para aprovar e punir, deixando-me sempre confusa quando leio que alguma coisa foi sancionada, ignorante sobre se levou castigo (sanção) ou, pelo contrário, recebeu uma solidária aprovação (sanção). Um dos mais conhecidos paradoxos é o de Epiménides, que terá dito: «Todos os cretenses são mentirosos.» O problema é que Epiménides nascera ele próprio em Creta...