Estranhezas
Um fim-de-semana destes, o caderno «Actual» do Expresso dedicava várias páginas aos escritores portugueses que, segundo determinados críticos e jornalistas que ali escrevem regularmente, estavam subvalorizados e sobrevalorizados. Não discuto a ideia, tão boa ou má como outra qualquer mas perfeitamente legítima num país livre, embora eu não creia que os leitores deixem de ler os apontados como sobrevalorizados se já gostarem deles nem comecem a ler os subvalorizados só por alguém dizer que lhes deviam prestar mais atenção (sobretudo se não encontrarem os seus livros à venda, o que tenho a certeza acontece no caso de Alexandre Andrade). O que é, de algum modo, um pouco estranho é que se considere sobrevalorizado e com «livros intragáveis» (assim mesmo) um autor a quem o próprio Expresso dedicou três páginas inteirinhas numa edição anterior (Valter Hugo Mãe); e que se considere sobrevalorizado Fernando Pessoa (pois foi), que é justamente o patrono do prémio que o jornal Expresso atribui todos os anos a alguém que considera excepcional numa qualquer área de conhecimento. E, quanto ao facto de um dos críticos dizer que a revista Ler faz lobby, não pude deixar de notar que nela escrevem dois dos outros críticos chamados a dar opinião umas linhas acima. Estranhezas à parte, não sei se devemos subvalorizar ou sobrevalorizar o dito artigo. Mas lá que deu polémica, deu.