A fama e o proveito
Hugo Gonçalves, de quem publiquei há uns meses o romance Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, vive há dois anos no Brasil, onde é editor, e escreve regularmente para diversas publicações portuguesas desse ponto de vista privilegiado sobre as relações entre portugueses e brasileiros. Recentemente, o Diário de Notícias publicou um excelente artigo da sua autoria sobre a diferença entre o prestígio que tem no Brasil alguma literatura portuguesa e os efeitos práticos pouco significativos desse prestígio, ou seja, o relativo desconhecimento por parte da maioria da população (só uma elite conhece e lê autores portugueses) e as vendas francamente insignificantes. Diz Hugo Gonçalves que «a ideia de lusofonia inspira uma ilusão de proximidade entre países que nem sempre estão tão próximos quanto supomos. A ideia de um mercado lusófono de 250 milhões de pessoas, em quatro continentes, pode estimular a ambição expansionista de bancos, petrolíferas ou hipermercados, mas não inspira delírios de riqueza entre os portugueses cujo ofício é a língua». Uma autora como Dulce Maria Cardoso, por exemplo, que em Portugal vendeu cerca de 18 000 exemplares do romance O Retorno, no Brasil vendeu apenas 2000 (e o país é bem maior)… E o mesmo acontece com muitos outros autores que, apesar de receberem prémios no país irmão e de serem muito queridos lá, não conseguem melhor. É o que se chama ter a fama e não ter o proveito… Para os interessados, junto o link.
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