Auto-ajuda
Sempre me intrigaram os chamados livros de auto-ajuda; das muitas vezes que estive deprimida, triste, com um tédio profundo e por aí além, preferi sempre a ajuda dos outros à auto-ajuda. E li, claro, livros que me ajudaram a esquecer a neura, mas eram sobretudo obras de ficção e poesia. Não era claro para mim como podia alguém acreditar que, só por ler os conselhos de um suposto especialista, curava as mágoas e afins; e tinha dificuldade em compreender porque faziam tanto sucesso alguns títulos e autores. Até que, quando estava na Temas e Debates e editávamos parte do catálogo da editora Rocco do Brasil, veio parar às minhas mãos uma série de livros intitulada «Marte & Vénus», de John Gray (um tipo com carinha de parvo que dedicava todos os livros a «Bonnie, my wife»), cujo primeiro volume, Os Homens São de Marte, as Mulheres de Vénus, esteve 259 semanas seguidas no Top Ten da New York Times Review of Books. E então percebi que este género não faz mais do que repetir e registar todas as coisas que toda a gente sabe, mas pensou que não tinham passado pela cabeça de mais ninguém (por exemplo: que, quando preocupados, os homens preferem ficar calados e as mulheres desabafar). É numa espécie de identificação com o leitor comum, que se sente menos só nas suas cismas e descobre que, afinal, não é burro porque os «especialistas» pensam exactamente como ele, que me parece residir o segredo do sucesso. Eu continuarei a preferir os amigos, os outros livros e até, se for preciso, os psiquiatras…