Falta de açúcar
Leio no suplemento «Babelia» do El País uma recensão a um livro de memórias de Bennett Cerf publicado agora em Espanha. Bennett Cerf foi o fundador da Random House, o editor de James Joyce, Truman Capote, Bernard Shaw e William Faulkner, entre muitos outros grandes nomes da literatura em língua inglesa, e viveu uma época especialmente rica em talentos, mas também especialmente difícil, pois já era editor quando chegou o crash de 1929. Trabalhou como um louco; e, porém, quando perguntaram ao seu filho de oito anos o que queria ser quando crescesse, este terá respondido que pensava ser editor como o pai, porque a única coisa que ele fazia era rir e falar o dia inteiro. Cerf riu e falou muito, de certeza absoluta, mas fundou aquela que é hoje a maior editora do globo (que se juntou com a Penguin há uns tempos) e deu a conhecer muitos autores ao mundo. Tal como depois dele o brasileiro Rubem Fonseca, Cerf também tinha os seus mandamentos do editor: 1. Ter boa memória e alguma imaginação; 2. Ter um vasto leque de interesses; 3. Usar de considerável diplomacia; 4. Perceber que a paciência é uma qualidade indispensável; e, por último, 5. Ter sorte. (Isto da sorte tem que se lhe diga.) Entre as histórias contadas no livro que o texto de recensão reproduz, uma pareceu-me especialmente engraçada. Cerf contratou um jovem editor muito competente para trabalhar a parte final de um dos romances de Faulkner e este ficou incrivelmente satisfeito com o trabalho realizado. Mas, quando Cerf lhe perguntou se o dissera ao jovem, Faulkner respondeu apenas: «Quando tenho um cavalo que está a correr bem, não o detenho para lhe dar mais açúcar...»