Gossip literário
Tenho esse enorme defeito de não ser curiosa, pelo que – com excepções, bem entendido – não me fascinam, como a tantos, as biografias. Mas gosto de saber coisas de escritores (e aconselho, desde já, as entrevistas da Paris Review recentemente publicadas pela Tinta-da-China; não é, porém, de aspectos tão sérios que falarei hoje). Há uns anos, li um livro de Javier Marías (nesse tempo muito menos famoso do que hoje, mas – recordo – já bastante arrogante) que reunia uma série de textos sobre escritores notáveis publicados, se não erro, num jornal espanhol. Chamava-se Vidas Escritas e trazia a chancela da Quetzal, quando esta era ainda dirigida por Maria da Piedade Ferreira. Despretensioso e ligeiro (não era um livro a que Marías desse uma importância por aí além), falava-nos de algumas idiossincrasias de escritores, contadas com humor, bom gosto e talento literário. Foi nesse livrinho que descobri, por exemplo, que Faulkner apostava fortunas em corridas de cavalos e Conrad deixava cigarros acesos por toda a casa, tendo-se livrado por pouco de alguns incêndios. Leitura boa para domingos sem ambições, que nos mostra que alguns monstros sagrados têm um lado tão humano como qualquer mortal.