Uma espécie de loucura
Há uns anos, numa tarde inesquecível na Feira do Livro de Lisboa, Eduardo Prado Coelho comparava romancistas e poetas. Dizia que, enquanto os primeiros eram claramente neuróticos, os segundos eram, sem qualquer dúvida, psicóticos. Ou seja: ambos mentalmente doentes, embora o transtorno dos romancistas não interfira com o pensamento racional e o distúrbio dos poetas implique uma certa perda de contacto com a realidade. Também Eduardo Lourenço, numa sessão belíssima a que assisti na Casa Fernando Pessoa, avançou que os poetas raramente sabem donde lhes vem aquele primeiro verso que provoca o poema, havendo nisso uma espécie de transcendência que faz com que, tradicionalmente, se diga que estão mais próximos de Deus do que as outras pessoas – incluindo os romancistas, que costumam explicar com grande detalhe donde lhes veio a ideia para determinado romance. E, no entanto, Lobo Antunes fala de uma mão que escreve alheia à sua cabeça; e na semana passada, numa sessão em Leiria com, entre outros, o escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, autor de O Novíssimo Testamento, este disse ao público que, na verdade, também não sabia bem donde lhe vinham as palavras quando abria o portátil e começava a digitar. Depois, pensando melhor, arriscou, porém, uma hipótese divertida: download cósmico?