A eternidade ou um dia
Quando perguntam a um escritor porque escreve – e acontece frequentemente em sessões nas quais o público intervém –, as respostas variam, mas não ultrapassam normalmente meia dúzia de hipóteses. Há quem escreva porque quer e quem escreva porque tem de escrever; há quem escreva porque não sabe fazer mais nada e quem ache que nunca se teria tornado escritor se não tivesse uma vida para lá da escrita; há quem escreva para não morrer e até quem escreva para não matar; há quem escreva para dizer alguma coisa ao mundo e quem não saiba o que diz com o que escreve. Pensa-se desde sempre que os escritores, escrevendo, procuram sobretudo a imortalidade. António Lobo Antunes, por exemplo, numa recente entrevista ao Expresso, mostrou-se convicto de que a sua obra lhe sobreviverá e que ainda vai ser lida durante muitos anos (ele falou em séculos, creio eu). Não sei se sermos lidos depois de mortos é consolo maior do que sermos lidos em vida; talvez seja um certificado de qualidade, é certo, mas, em todo o caso, já cá não estaremos para ver os leitores pegarem nos nossos livros. Não será preferível um encontro com um leitor especial num único dia à desconhecida eternidade?