Casal-maravilha
Sou editora e casada com um editor, mas isso nunca atrapalhou a nossa relação; tenho consciência de que comecei depois e de que sei menos – e admiro o trabalho do Manel ao longo dos anos e a sua capacidade de adaptação às mudanças o suficiente para nem me atrever a concorrer com ele. Porém, pergunto-me frequentemente se um casal de escritores viverá assim tão pacificamente. Em alguns casos, acredito que sim e que a admiração (recíproca ou de uma das partes) facilite a convivência artística – calculo, por exemplo, que o poeta e dramaturgo Jaime Rocha tenha quase uma idolatria por Hélia Correia e que a generosidade de Urbano Tavares Rodrigues tenha estimulado a criatividade de Maria Judite de Carvalho. Mas noutros casos não é assim tão simples – e senti uma vez que Siri Hustvedt não apreciava por aí além que lhe mencionassem Paul Auster (o marido) durante as entrevistas, quando estava a promover um livro seu. Neste momento, dois dos mais promissores escritores norte-americanos, ambos destacados pela famosa revista Granta no ano em que se iniciaram nas lides da publicação – Nicole Krauss e Jonathan Safran Foer – são casados e claramente concorrentes (para quem não conhece, não perca Está Tudo Iluminado, do segundo, e A História do Amor, da primeira). Por vezes, pergunto-me se este casal-maravilha vai conseguir ser um casal por muito tempo.