Toda a gente que estuda Literatura Inglesa lê nem que seja uma peça de Shakespeare, mesmo que nunca tenha a sorte de assistir a uma. E, no entanto, a literatura dramática, incluindo a de Shakespeare, pede encenação, performance e, em suma, espectáculo. Talvez por isso, mesmo quem gosta muito de ler raramente se atira a um texto de teatro e, como também se vai pouco ao teatro em Portugal, permanecerá mais pobre e ignorante em muitos aspectos. Lembro-me de, ainda muito nova, ter lido As Três Irmãs, de Tchekhov, com bastante prazer – e este prazer não advinha apenas do texto, mas também do subtexto, da novidade que era encontrar indicações de cena, como a voz sussurrada do autor russo, que mais tarde aprendi chamarem-se didascálias. Pouco depois disso, a professora de Francês mandou-nos ler A Cantora Careca, de Ionesco, e foi também uma leitura fascinante que, ainda por cima, me fez frequentemente rir até às lágrimas. Já na Faculdade, passei um ano inteiro a estudar Corneille, Molière e Racine e fiquei completamente seduzida pela Fedra, deste último, que me contaram uns amigos que moraram em França fazer parte do currículo da escola secundária e ser lida nas salas de aula em voz alta, distribuindo-se os papéis pelos alunos e valorizando-se a leitura com o objectivo de interessar os jovens pelo texto. Em Portugal, porém, a relação entre os leitores e o teatro parece mesmo uma coisa dramática...
4 comentários
António Luiz Pacheco 31.01.2011
Cara Cristina
Como disse, sem ter andado no Liceu Francês, tive professoras no 2º ciclo liceal, que nos davam a ler na década de 60/70 esses autores e qual o o método que usavam e julgo cativava.
O que mudou, terá sido o sistema, porque pelo que me apercebi pelas minha irmã mais nova e sobrinhos, se passou não a dar literatura e sim a fazer interpretação sócio-polítca dos textos, aliás escolhidos para essa finalidade e que nunca eram os clássicos... aliás fascistas! O imaginário e o sonho, a poesia, a elevação de sentimentos ou a sua exaltação, superados pelo pragmatismo marxista ou a visão histórica do socialismo científico... Aliás na minha passagem pelo ensino do "outro lado", entre 1978 e 1984, os meus colegas que davam português eram quase sempre oriundos da área de histórico-filosóficas e da esquerda dura, e, me questiono bastante hoje em dia se isso não terá tido uma influência menos benéfica nalgum afastamento e falta de leitura ou mesmo ileteracia nos meus sobrinhos e tantos do seus amigos que têm hoje já mais de 30 anos... a despeito de formados em coisas estranhíssimas e que sabem tanto sobre o budismo ou direitos dos animais quanto ignoram onde fica o Nepal... ou que esta foi uma colónia inglesa, não sabem quem foi sir Edmund Hilary, nunca ouviram falar em sherpas... nem no yéti por conseguinte...
Quanto a Bernardo Santareno... bom, está tão esquecido quanto outros... (enfim não aqui no Correio do Ribatejo, um jornal bafiento que meia dúzia ainda mantém). Hoje só valem uns quantos autores e géneros, aliás o teatro moderno e as encenações actuais, duvido que se prestem a ser usados numa aula...
Gil Vicente... não concordo bem consigo, tem até muito sumo... mas evidentemente perde para Molíére como este para Brecht ou Shaw e por aí fora, tem a ver com os tempos e é preciso ler e olhar às épocas em que foram escritos... acho eu...
Cumprimentos e creia que é um prazer e até estimulante discordar eventualmente um pouco do que diz.
Caro António, Penso que se estará a dirigir à minha homónima, a Escritora ... ora, eu sou só uma mera Curiosa. De qualquer forma, honra-me o seu comentário. Cumprimentos, Cristina Carvalho (vou pensar em mudar de assinatura para evitar a confusão!)
Estava a responder ao seu post... Cristina Carvalho... ignoro se é ou não escritora e me parece apenas uma pessoa inteligente e com opinião, no meu ponto de vista, interessante!
Espero sinceramente ter oportunidade de voltar a trocar impressões consigo.