Estado crítico
Desde que estou na edição – e, como sabem, já lá vão mais de vinte anos – que ouço falar em crise. Ouvi-o quando os leitores eram poucos, quando as livrarias começaram a fechar, quando a Internet apareceu e se previu que tiraria muita gente à leitura e, mais recentemente, quando rebentou a... crise, a verdadeira. E fico preocupada com o futuro de muita gente que perdeu ou perderá o emprego, com a segurança das famílias, com os mais jovens que não encontram ocupação digna (um dos meus sobrinhos mais velhos acaba de emigrar para o Brasil), mas também com os autores que publico este ano. Alguns são, realmente, muito bons (como a Aida Gomes da Silva e o David Machado, cujos livros saíram recentemente, ou outros que lançarei mais para diante, como o Pedro Guilherme-Moreira ou o Nuno Camarneiro) e sinto que o seu reconhecimento mais do que merecido está ameaçado pela desgraça que ainda nos espera. Peço, por isso, a quem goste verdadeiramente de ler que lhes dê atenção e, se apreciar a leitura, passe a palavra. Começar num ano excepcionalmente difícil como este pode custar-lhes o sonho de continuar a escrever, e isso seria terrivelmente injusto.