Livros que voltam
Todos somos diferentes – e não é fácil encontrar um livro que agrade a toda a gente. Claro que há clássicos que são lidos por muitas gerações com o mesmo entusiasmo, mas em cada geração há livros que saem, fazem o seu caminho e depois se esquecem de repente. Durante anos, sempre que faziam inquéritos sobre as leituras preferidas de figuras públicas, havia um título que se repetia até à exaustão. Tratava-se de O Perfume, de Patrick Suskind, que teve um sucesso estrondoso quando foi lançado e fez as delícias de muitas pessoas à roda da minha idade. O autor, depois de vender quinze milhões de livros, foi acusado de plágio (pois tinha sido editor e alguém se queixou de Suskind lhe ter roubado a história de um original enviado para publicação), mas nem assim a coisa esmoreceu; os outros livros do autor, porém, não deixaram grande rasto em Portugal (excepto um divertimento chamado A História do Senhor Sommer, recentemente reeditado, mas próximo da ficção juvenil). Já há muitos anos que não ouvia falar do livro do homem que não tinha cheiro (mas tinha um olfacto apuradíssimo), e um dia destes, em conversa com a minha sobrinha de treze anos sobre o que andava a ler, a resposta dela foi inesperada: O Perfume. Talvez os pais a tenham influenciado, não sei. Mas foi engraçado ver como certos livros voltam quando os pensávamos esquecidos.