Assumido e com graça
Há uns anos, contaram-me um episódio hilariante passado num festival de escritores com o saudoso poeta Al Berto que, não por acaso, Eduardo Lourenço considerou o último «poeta-mito». Tive a felicidade de ainda o conhecer pessoalmente e lembro-me até hoje da sua voz possante e da forma como lia a sua poesia (e a de outros). Tratava-se de um poeta extremamente dotado e de uma pessoa imensamente gentil com quem dava gosto conversar sobre qualquer assunto. Ora, Al Berto era, como todos saberão, um homossexual assumido e cheio de humor. Convidado um dia pelo Instituto do Livro para um encontro literário no estrangeiro, no qual participavam também Vasco Graça Moura e José Saramago, às tantas saiu-se com esta tirada de génio para a representante do Instituto: «Este ano vocês só convidaram mulheres: eu, a Sara Mago e a Graça Moura.»