Da vida do editor
Desde que, em todo o mundo, as editoras se concentraram em grandes grupos, o papel do editor sofreu grandes alterações. Muitos dos que eram figuras de referência internacionais, ao venderem as suas editoras, tornaram-se assalariados e, em muitos casos, perderam autonomia: as suas escolhas têm hoje por base não apenas na qualidade dos livros, mas também a sua rendibilidade. Houve, porém, alguns que conseguiram manter as casas que fundaram e bem assim a sua linha editorial. Um deles foi o espanhol Jorge Herralde, o proprietário da Anagrama em Espanha, que só muito recentemente decidiu associar-se à gigante Feltrinelli para garantir a continuidade da empresa (pois não tem herdeiros), mas continua a publicar aquilo de que gosta e a usar as mesmas capas de há décadas, não se ralando com a profusão de cores, relevos e dourados que inundam o mercado. No texto de uma conferência proferida em Barcelona (e depois publicada em livro no México), Herralde, citando um outro editor (Olivier Cohen, da Seuil, esta já absorvida por um grupo), diz que não devemos julgar um editor pelos bons livros que recusou, mas pelos livros maus que publicou. Uma perspectiva, sem dúvida, interessante. E, mais adiante, fala da diferença entre as editoras de supermercado (que publicam tudo) e as editoras boutique (que fazem uma selecção de títulos apertada e criteriosa), avançando que muitos dos grandes grupos não resistem a ter uma destas boutiques, tal como os armazéns El Corte Inglés não podem deixar de vender a marca Armani. Se tiver razão, daqui a uns anos, é bem capaz de alguém se interessar pela Tinta-da-China...