A decadência do Brasil
Independentemente de se gostar ou não de Dilma Roussef, o que se passou recentemente no Brasil foi escandaloso e patético, até porque recai em quem agora a substitui a mesmíssima suspeita de corrupção que a afastou da presidência. Mas este senhor Temer – não sei se concordam comigo – é muito pior do que a sua antecessora e já mostrou as suas inclinações antidemocráticas não só através de algumas nomeações (bispos de seitas religiosas e afins), mas sobretudo através do retrocesso que significa a extinção de alguns ministérios (das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos e, claro, da Cultura – que só recuperou porque percebeu que até em Cannes essa sua decisão estava a dar que falar), no desprezo total de categorias como género e raça, tão importantes no Brasil. A poetisa Ana Luísa Amaral, a este propósito, relembrou o texto em que a escritora e activista norte-americana Adrienne Rich explicava porque não podia aceitar a National Medal for the Arts que lhe fora atribuída. Deixo-o eu aqui também para vossa reflexão: «A arte é o nosso direito de nascença, o nosso mais poderoso meio de aceder à vida imaginativa e à experiência de nós próprios e dos outros. Porque redescobre e recupera continuamente a humanidade dos seres humanos, a arte é crucial para a visão democrática. Um governo, à medida que se vai afastando da democracia, verá como cada vez menos útil o encorajamento dos artistas, verá a arte como uma obscenidade ou uma fraude.» Tirem as vossas próprias conclusões.