A manta do tempo
A terrível velocidade dos tempos que correm (eu até disse «correm») é, na verdade, bastante recente. Talvez os miúdos de hoje já nasçam acelerados, mas quem nasceu antes da invenção dos computadores e dos telemóveis sente que o mundo avança de forma vertiginosa e fica muito stressado (o meu caso). É bastante curioso que no livro que aqui me traz hoje – Num Tempo Que Já Lá Vai, escrito por Rosário Alçada Araújo e ilustrado por Patrícia Furtado – seja a Laura, uma menina, a notar que as coisas estão a andar demasiado depressa e que não devem ter sido sempre assim. Pergunta à avó, que a leva à escola, como era no seu tempo – e essa pergunta inaugura uma bonita história com uma manta tricotada que, ao desfazer-se de volta ao novelo, fala de tempos que já lá vão, quando a trisavó de Laura ainda era viva e o padeiro trazia o pão à porta, havia pregões, varinas, ardinas, bacios de louça, relógios de dar corda, ferros a carvão e muito mais coisas que entretanto se tornaram obsoletas e inúteis. Mas não é um livro saudosista, pelo contrário, nele guarda-se o passado como relíquia mas ensina-se que todos os tempos têm coisas boas e más e, sobretudo, pessoas que vivem, trabalham, conversam, amam – tal como avó e neta nesta história. A edição é da Gailivro e o lançamento é amanhã, ao meio-dia, na Livraria Buchholz, em Lisboa.