Alimento para o corpo e para a alma
Se há duas coisas que nunca faltam à mesa dos portugueses, são o pão e o vinho. Em minha casa, tanto eu como o Manel não passamos sem pão, mesmo às refeições, e quando vamos a um restaurante japonês ele fica sempre a achar que lhe falta qualquer coisa... Pois destes dois produtos privilegiados há muitíssimo a dizer e contar – e foi o que fez o genial Paulo Moreiras, autor de romances e também de vários livros que recuperam as tradições nacionais (a ginjinha, o palito, a morcela e o tremoço, por exemplo), no recentemente dado à estampa Pão & Vinho – Mil e Uma Histórias de Comer e Beber, ilustrado com gosto e discrição. Nele aprendemos como entraram o pão e o vinho na alimentação corrente dos homens, as suas origens mais remotas, mas também a forma como ambos minaram o nosso quotidiano na forma de provérbios, adivinhas, superstições, versos e muito mais; cheio de curiosidades interessantes (porque se chama Pão de Açúcar à montanha que está no meio do Rio de Janeiro, por exemplo), de listas de tipos de pão, de castas, de festas que se celebram com pão e vinho e também de algumas receitas muito bem apanhadas, a obra recupera ainda excertos da literatura popular, filmes e apontamentos incríveis de muitas épocas e lugares nos quais pão e vinho são os verdadeiros protagonistas. Deixo-vos dois pequenos exemplos do cancioneiro popular só para aguçar a curiosidade. Mas, por favor, não deixem de ler.
Ó rosca do meu consolo,
Meu amado pão de bico,
Ó meu prezado miolo,
Como, ao mastigar-te, eu fico
Pateta, maluco e tolo!
Hei-de morrer numa adega,
Um tonel ser meu caixão,
Hei-de levar de mortalha
Um copo cheio na mão.