Anuário ressuscitado
Quase ninguém sabia que me estreei na publicação de poemas em 1984 (muito antes de ter saído o meu primeiro livro de poesia, que é de 1996). Excepto aos mais próximos, não falei disto, até porque na altura assinava com pseudónimo; mas recentemente saiu um artigo no jornal Público a contar tudo e, portanto, não merece a pena estar a manter o segredo. A editora Assírio & Alvim, então dirigida por Manuel Hermínio Monteiro, um dos mais festejados editores nacionais (e que saudades me traz), lançou nesse ano longínquo um projecto que foi marcante para a edição portuguesa. Tratava-se de convidar poetas não publicados a enviar os seus poemas (na altura, um máximo de sete), para serem apreciados por um júri com vista à publicação numa obra colectiva chamada Anuário de Poesia Inédita. Essa iniciativa deu frutos, pois uma boa percentagem de poetas dados a conhecer no anuário desse ano e dos que se seguiram (até 1987, data do último anuário) acabaram por tornar-se nomes importantes da literatura portuguesa (não estou a falar de mim, mas de Adília Lopes ou de José Eduardo Agualusa, por exemplo). Porém, muitos mais foram os que ali viram poemas publicados e que, não sendo conhecidos hoje pela poesia, são nomes fortes na nossa cultura, como Jorge Vaz de Carvalho (tradutor, autor e cantor lírico), João Pinharanda (crítico de arte), Joana Pontes e Manuel Mozos (cineastas) e até, ao que parece, Pacheco Pereira, que assinou «Abrupto» e, assim descoberto pelo nome do seu blogue, não confirmou nem desmentiu, o que quer dizer que era mesmo ele. Pois agora a Assírio & Alvim resolveu tirar o anuário das cinzas e voltar a publicá-lo trinta anos depois, celebrando o Dia da Poesia do próximo ano com a saída de um volume de inéditos. Quem quiser, pode mandar dez poemas para a editora e tentar a sua sorte. Uma excelente notícia.