Autor?
De vez em quando, pergunto a algumas pessoas de fora deste meio, sobretudo se forem mais jovens, o que andam a ler. E, sim, respondem, mas resumindo o enredo e abordando os temas tratados, raramente indicando o título (que esquecem com uma facilidade surpreendente) e ainda mais raramente nomeando o autor (que nem chegaram a fixar). É para mim muito estranho, confesso, esta atitude «desprendida», porque, quando comecei realmente a entusiasmar-me com a leitura e descobria um autor ou uma autora que me caía no goto, queria ler absolutamente toda a sua obra e, a menos que me desiludisse pelo caminho, não descansava enquanto o não fizesse. Ainda hoje sou capaz de referir todos os títulos que li de determinados autores amados – e até os que não cheguei a ler e estão na minha cabeça como uma espécie de culpa que não se foi com o tempo. Os editores franceses são ainda dos poucos, no mundo inteiro, que respeitam a figura do autor; não raro, sobre as capas muito simples, claras e lisas, apenas com letras, colocam umas cintas largas com a fotografia (mesmo que se trate de alguém feio ou pouco atraente) e o nome do autor em maiúsculas, para que, entrando numa livraria, os leitores possam identificar sem trabalho que já saiu mais um livro do seu escritor favorito. Mas não conheço mais ninguém que o faça e talvez seja, afinal, pura perda de tempo e energia: muitas pessoas já não querem simplesmente saber quem escreve o que andam a ler.