Clássico moderno
Depois do atentado em França contra os jornalistas do Charlie, publicaram-se centenas de artigos de opinião em todo o mundo, muitos dos quais citavam Voltaire. O autor francês veio à baila, por exemplo, num texto muito interessante de Adolfo García Ortega no El País (abaixo fica o link para quem queira ler), no qual era citada a sua peça de teatro O Profeta Maomé e o Fanatismo (traduzo livremente, pois não sei se existe uma tradução portuguesa da peça); e também, mais recentemente, num artigo de Teresa Salema no Público que falava (além de muitas outras coisas) de Cândido («é preciso cultivar o nosso jardim»). Mas nenhum livro de Voltaire foi mais citado do que o seu Tratado sobre a Tolerância; de tal modo que a edição de bolso da editora Gallimard (a única, pelos vistos, que circulava em França) esgotou, em alguns dias, 120 000 exemplares (bem sei que só custava 2 euros, mas mesmo assim) e foi preciso reimprimir imediatamente, a tempo de estarem à venda no dia da marcha, outros 10 000 que, mesmo assim, se revelariam insuficientes. Neste período, o único livro com vendas equiparáveis foi o novo romance de Houellebecq, Soumission, que fantasia uma França islamizada (150 000 exemplares) e parecia ter sido feito de encomenda para os tempos terríveis em que saiu para o mercado. Mas, enfim, um texto com 250 anos concorrer com uma provocação de um autor vivo e polémico, sim, é obra!