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Li há umas semanas um interessante artigo de Anabela Mota Ribeiro sobre Anne Frank a propósito de uma viagem da jornalista à casa desta, em Amesterdão, com uma sobrinha de dez anos. Para lá da bela prosa, tratava-se de um texto comovente e, ao mesmo tempo, muito lúcido sobre a forma de não deixar cair no esquecimento das gerações mais novas a barbárie que assolou o século XX, já os nossos pais eram vivos, mas de que os jovens estão cada vez mais distantes. Para a autora do artigo, a visita foi importante sobretudo por isso, por poder evocar as suas memórias da leitura do Diário à sobrinha, comparando-as ali ao vivo com o anexo onde Anne e mais sete pessoas viveram clandestinamente durante dois anos e donde saíram para campos de concentração depois de uma denúncia (nunca se soube quem a fez), sobrevivendo apenas o pai da rapariguinha judia que ficaria célebre postumamente pelo seu relato escrito do dia-a-dia vivido num anexo onde havia horas até para puxar o autoclismo. Embora o Diário de Anne Frank seja hoje uma espécie de lugar-comum literário, e se calhar os jovens de agora leiam mais depressa O Rapaz do Pijama às Riscas, obra mais recente sobre o mesmo tema e adaptada ao cinema, nada substitui o testemunho de alguém que viveu a tragédia em directo e sabe do que fala (além de saber também escrever com elegância e maturidade para os seus treze anos). Por isso, mesmo correndo o risco de parecer bota-de-elástico, aconselho vivamente a sua leitura aos adolescentes – e, indo a Amesterdão, a visita à casa da jovem escritora – para que não se possam esquecer nunca do que felizmente não tiveram de sofrer na carne. E, se puderem, leiam os Extraordinários o texto sensível da Anabela Mota Ribeiro (Público, suplemento «Fugas», 16 de Agosto) porque vale a pena.