Andamos de novo a tentar organizar as estantes lá em casa – o espaço é sempre pouco e cada vez é mais difícil encontrarmos o que queremos. Agora, foram os livros em espanhol que ocuparam, com irrepreensível atraso mas finalmente por ordem alfabética, uma estante do corredor; para isso, porém, foi preciso arranjar espaço no meu escritório para os que lá estavam – e alguns, à medida que eram tirados do sítio, pareciam que saíam de uma cartola, e não da prateleira. Foi o caso de um romance de Júlio Conrado, cuja existência quase esquecera. Em anos sucessivos, Portugal foi país-convidado de Feiras do Livro e Festivais Literários (pelo meio, Saramago ganhou o Nobel) em Frankfurt, na Suíça, no Brasil, em Paris... E, segundo percebi, Júlio Conrado nunca foi convidado para participar em nenhum dos eventos. Vai daí, quem sabe se por indignação, se apenas por piada, escreveu um livro intitulado Desaparecido no Salon du Livre – uma paródia com «verdades, meias-verdades e muita ficção», tal como se anuncia na contracapa. Que dizer? Há outros escritores, que também não foram a lado nenhum, que reagiram de forma menos engraçada. E um que foi a todas, e que se recusou a partilhar o hotel com os confrades. Júlio Conrado tem, pelo menos, sentido de humor.
6 comentários
ASeverino 26.05.2014
Ó Pacheco estou no Km 90 entre Cós e Alpedriz , nesta altura com o Belarmino Cagarila , e olha que o José Cipriano Catarino faz ali um excelente retrato do que foram os primeiros cinquenta anos do século XX. Uma maravilha de personagens bem nossos, bem cá da terra quando ainda se chamavam Joaquina em vez de Vanessa, Jaime em vez de Iuri . Um belo livro que merece atenção, não te parece Ó Pacheco?
Sabes ó amigo José Catarino isto da literatura ás vezes faz-me lembrar o futebol, mal acomparado " (como se diz em Alfama), é preciso aquela pontinha de sorte que é preciso ter na vida, é que há autênticos matacões que, sem saber ler nem escrever, fazem uma carreira no futebol de 1ª. e outros, autênticas pérolas (como eu...aqui tou a brincar, claro) que não passam do Cascalheira ...estou, sinceramente, a gostar imenso do teu livro. Excelente. Parabéns, tem sido uma surpresa muito agradável mas não me quero alongar em elogios porque poderão estar a pensar que o faço apenas por ter sido um amigo que o escreveu (e não é o caso, tu bem o sabes ).