Aprendi muito sobre paradoxos no início da minha carreira editorial por trabalhar numa editora que então se dedicava à divulgação científica e ter lido os livros divertidos de Martin Gardner com capítulos sobre paradoxos, círculos viciosos e outras matérias aliciantes. Lembro-me, por exemplo, da história de um viajante que chega a uma cidade em cuja rua principal há dois barbeiros: um com o cabelo muito bem cortado, o outro com o cabelo numa desgraça. Como precisa de cortar o cabelo, o viajante não hesita em escolher o primeiro. Mas faz mal. Porquê? Ora, porque as pessoas raramente cortam o cabelo a si próprias! Recordo também o paradoxo do mentiroso, que vou parafrasear. Alguém escreve um cartaz que diz: «Todos os lisboetas são mentirosos.» Mas, se quem escreve a frase é um lisboeta, em que ficamos? Giro, não é? Lembrei-me disto a propósito de duas palavras muito portuguesinhas que, portadoras do prefixo «-des» (como em «destruir» ou «desleal») deveriam significar o contrário de uma coisa, mas, paradoxalmente, não significam senão essa mesmíssima coisa. São elas «desandar» (quando dizemos a uma pessoa que desande, o que queremos é que ande, e depressinha, para longe de nós) e «deslargar» (nunca esqueci a Maria Vieira num programa do Hermann José a agarrar as mãos de um tipo ao seu lado e a apalpar-se com elas, dizendo: «Deslarga-me! Deslarga-me!»). Enfim, hoje era isto que vinha aqui dizer e agora ocorreu-me que «desdizer» também não é ficar calado.
5 comentários
José Cipriano Catarino 23.10.2017
Na versão que eu conheço, um homem ofereceu à legítima um cordão de ouro e levou-a orgulhoso à feira; para se vangloriar, aproximou-se de ourives ambulante: — Oiça lá, quanto é que vossemecê dá pelo fio da minha mulher? — Dez contos de reis! Afastam-se, ambos vaidosos. Ora a mulher deu o cordão ao amante. Tempos depois, torna o marido: — Amanhã, pões o cordão , que vamos à feira! A mulher, atrapalhada, pergunta ao amante o que hão-de fazer. — Não há problema, levas um de pechisbeque, ninguém dá pela diferença. Logo o orgulhoso marido procura o mesmo ourives e repete a pergunta. — Por esse fio, nem dez tostões dou! E a mulher, a disfarçar, enquanto puxa pelo braço do marido: — Vamos embora, que o raça do homem tem dias!
Pois eu volto! Quem não lhe agrade, que não leia, passe à frente! Era o que faltava, ser censurado ... a menos que a dona do blog me faça algum reparo nesse sentido. Eu gosto de contar histórias, tenham ou não piada, porque nem sou humorista logo não sou obrigado a fazer rir. Contei uma história que se adapta a tantas situações, e cuja moral é mesmo "tem dias". O anónimo não o percebeu, julgou que era uma anedota, portanto o defeito é dele e não meu! Um abraço José Catarino!