Em Timor
Recebi um convite para ir à estreia do novo filme de Luís Filipe Rocha, intitulado Rosas de Ermera; e, como gosto muito do realizador e do seu cinema, não pude faltar. Não era um filme de ficção, como os que vi dele, mas um filme de não-ficção em torno da família de Zeca Afonso, narrado, aliás, pelo seu irmão mais velho (João Afonso dos Santos, com cerca de noventa anos) e a sua irmã mais nova (Mariazinha, a que cheirou as rosas de Ermera, com mais de oitenta). Mas não pensem que é um filme sobre a carreira do Zeca, pois não tem que ver com isso, mas com a separação da família no final dos anos 1930: vivendo em Lourenço Marques, o pai – que era juiz – concorreu a um lugar em Timor. Como no sítio para onde ia, Lahane, não havia liceu, os dois rapazes vieram estudar para Coimbra, e a menina, ainda na escola primária, acompanhou os pais. Ora, quando rebentou a Segunda Guerra Mundial, a ilha de Timor foi invadida por tropas japonesas – e Mariazinha e os pais ficaram impossibilitados de comunicar com o exterior, pelo que durante vários anos João e Zeca não souberam deles e puseram mesmo a hipótese de se terem tornado órfãos. Conhecia mal esta história da ocupação japonesa de Timor e a forma como uma coluna de timorenses se aliou aos japoneses contra o colonizador português. O filme é maravilhoso também pelos seus protagonistas e narradores; mas, como vai fazer itinerância pelo País, vejam se não o perdem nas vossas cidades e, entretanto leiam o livro de João Afonso dos Santos sobre o mesmo assunto, O Último dos Colonos. Às vezes, a realidade supera a ficção.