Escritores de canções
Apesar de Sérgio Godinho sempre ter insistido na expressão «escritor de canções», não costumamos considerar escritores aqueles que fazem letras e poemas para serem cantados. Mas a Academia Nobel, ao premiar Bob Dylan com o maior galardão que existe para a Literatura, mostrou que eles têm, afinal, tanto direito a serem denominados escritores como os que se dedicam à escrita de romances, poesia ou peças de teatro. Talvez por isso, foi divulgado com alguma pompa e circunstância na revista The New Yorker que a Biblioteca Pública de Nova Iorque ficará com o espólio de Lou Reed – e quem o anunciou foi a cantora Laurie Anderson, sua viúva, no dia em que Reed, se fosse vivo, faria 75 anos. Por aqui não creio que as nossas bibliotecas se interessem muito ou estejam preparadas para gerir o espólio de um músico: gravações electrónicas, registos em papel, pautas, vídeos e discos sem fim, além de objectos pessoais, fotografias, cadernos… Não temos um grande museu para a música e os músicos, e as nossas bibliotecas olham mais pelos espólios dos escritores à moda antiga. Mas talvez as coisas mudem com a introdução da expressão «escritor de canções» na nossa língua e com o Nobel da Literatura atribuído a um músico.