Escritores e dinheiro
Leio num artigo publicado no La Nación, jornal argentino de grande tiragem, que um estudo encomendado por várias associações de escritores na Europa confirmou que os escritores franceses nunca estiveram tão deprimidos como agora. O estado de coisas no nosso continente não é dos melhores, bem o sabemos, mas se pensavam que a razão para a neura era essa, desenganem-se, pois parece que o problema é, afinal, terem as contas bancárias completamente rapadas. Os escritores dizem que nunca ganharam tão pouco na sua vida, e metade deles declara inclusivamente que nem sequer consegue o equivalente a um salário mínimo com os seus livros (um salário mínimo em França deve ser, porém, três vezes o português). Assumindo-se claramente contra os apoios governamentais aos escritores, o articulista aconselha então os queixosos a trabalharem, segundo o exemplo de Rodolfo Fogwill, um autor argentino que ganhou vários prémios importantes e que não só nunca deixou a sua ocupação como consultor de marketing, como dizia que, se os escritores fossem subsidiados, então também o deveriam ser os canalizadores e as baby-sitters, uma vez que não via nada de excepcionalmente meritório em escrever livros. Citando Faulkner, o autor do artigo acrescenta que o escritor não precisa de liberdade económica, o que precisa é de lápis e papel; que nada de bom se escreve só por se ter recebido dinheiro para isso e que um bom escritor nunca recorre a fundações ou instituições para o apoiarem financeiramente pela simples razão de que estará a escrever, não tendo tempo para minudências. A época de Faulkner era diferente, bem entendido, e hoje está fora de questão um escritor viver como um indigente, como tantos artistas viveram no passado. Mas, na verdade, a conta bancária recheada não garante, só por si, a qualidade literária. Só que a pobreza também não. Além disso, na cadeia da edição, do paginador ao livreiro, passando pelo tipógrafo e o editor, todos são profissionais. Então, porque não é profissão escrever?