Exclamar!
Confesso que embirro bastante com pontos de exclamação, mais ainda se forem constantes. Uma frase precisa, por vezes, de ser exclamativa, mas uma narrativa coberta de pontos de exclamação faz-me sempre pensar num diário adolescente («Estou tão triste! Ninguém gosta de mim! Os meus pais não me compreendem!»). Leio um artigo sobre a matéria, no Atlantic Daily, no qual nos dizem quantos pontos de exclamação usaram grandes escritores ao longo da sua carreira. Elmore Leonard, nas suas 10 Regras para Escrever, aconselha a não usar mais de dois ou três por cada 100 000 palavras; porém, nos seus mais de 40 romances, que totalizam 3,4 milhões de palavras, deveria ter usado apenas 102, mas parece que usou mais de 1600... Mesmo assim, a sua média é muito baixa: 49 pontos de exclamação em cada 100 000 palavras; Joyce, com apenas três romances, conseguiu uma média de 1105, Fitzgerald de 356, Hemingway de 59, Salman Rushdie de 204, Virginia Woolf de 258, Jane Austen de 449. Nenhum destes escritores é conhecido por ser especialmente exclamativo, e porém... Espero que ninguém se lembre de contabilizar os pontos de exclamação de Shakespeare – ou a regra de Leonard cairá por terra, obrigando-me também a rever a minha embirração.