Ir ou não ir?
Há algum tempo, depois de a Hungria anunciar que iria construir um muro para conter a entrada de refugiados, uma escritora convidada para um festival literário em Budapeste pôs a hipótese de desistir da sua participação por se encontrar nos antípodas dessa decisão. Estava, obviamente, no seu direito, embora os organizadores do dito festival pensassem muito provavelmente como ela e não devessem ser os mais castigados com a sua ausência. Num interessante artigo publicado no Guardian, diz-se que os activistas políticos tentam frequentemente convencer os escritores e artistas a boicotar determinados certames, enquanto os organizadores alegam que, se eles lá forem, há uma maior probabilidade de se debaterem questões fundamentais e de se denunciarem situações inaceitáveis. Por outro lado, também há quem acuse certos países de realizarem eventos considerados plurais, com gente de todo o mundo, só para fingirem que são abertos e liberais quando, no fundo, tudo não passa de uma fachada; mas um estrangeiro recusar um convite para falar num país em que os locais não podem abrir a boca não será colocar mais um tijolo na barreira à liberdade de expressão? Um filósofo inglês que fez várias palestras sobre liberdade de expressão num país em que há censura ficou a perguntar-se se valeu a pena e se o que disse terá tido alguma influência; e acha que não. Como decidir então nos casos em que os direitos humanos não são cumpridos no país que convida? Ir? Não ir?