Língua franca
Toda a vida pensei que a nossa língua não tinha grande peso mundial por não ter um número de falantes suficiente e, sobretudo, por a maioria dos falantes do português estarem em países economicamente desinteressantes (pelo menos, até há pouco tempo, porque o Brasil já não é o que era). Como muita gente, achei que, se fosse jovem e tivesse tempo, ainda me poria a aprender chinês, tendo em conta o crescimento avassalador da China na última década e o poder que, se as coisas assim continuarem, eventualmente exercerá sobre o resto do mundo. Mas parece que a influência das línguas a nível global nada tem que ver, afinal, com a riqueza das nações ou a quantidade de pessoas que a falam. A revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou recentemente um estudo sobre a «língua do futuro» (entre os autores, figura um português, Bruno Gonçalves) que atesta que o que torna uma língua «franca» é a sua capacidade de mediar a comunicação entre línguas muito distantes entre si; ou seja, mapeando as redes que ligam as várias línguas mundiais (Twitter, Wikipédia e outras), os cientistas concluem agora que, mais do que o peso demográfico ou económico, o sucesso de uma língua deve-se à força dessas ligações. Assim, o chinês é falado por muitos, mas em regiões isoladas e, sendo igualmente de aprendizagem dificílima, não interage com os restantes idiomas e é considerado periférico. Já o português aparece na zona intermédia, ao lado de línguas como o sueco, do neerlandês e do dinamarquês, apesar de todas estas línguas serem muito menos faladas do que o chinês ou o árabe. O inglês lidera, claro, porque a maioria dos bilingues do mundo tem o inglês como língua materna ou segunda língua... Além de que, para se fazer entender em qualquer lado e qualquer situação, a maioria das pessoas usa o inglês. Parece que no Facebook, por exemplo, os portugueses escrevem imensas vezes em inglês nos seus murais.