Literatura francesa
Embora tenha sido a França a oferecer aos Estados Unidos a Estátua da Liberdade, os americanos não retribuem lendo a literatura francesa... Muitos autores franceses queixam-se de que estão traduzidos em várias línguas, mas que não são publicados nem no Reino Unido nem nos EUA, e até o Prémio Nobel Le-Clézio é praticamente um desconhecido nestes países (Modiano há-de ter destino semelhante, digo eu). Haverá algum problema específico com a literatura francesa que justifique tal ausência? Bem, leio num artigo da Internet assinado por Dennis Abrams que a produção literária anglo-saxónica é de tal forma volumosa que deixa pouco espaço às literaturas de outras línguas (em França, apesar de saírem centenas de livros franceses, 45 em cada 100 títulos publicados são estrangeiros); e que, além disso, no mercado norte-americano fica tão caro traduzir um livro literário que as pequenas editoras fogem de o fazer. Mas será só isso? Pois parece que não: os editores anglo-saxónicos consideram que os franceses até inventaram o interessante romance social no século XIX, mas depois da Segunda Guerra Mundial esqueceram-no completamente para se dedicarem à experimentação e ao nouveau roman, que consideram elitista, intelectual e, em suma, pouco legível... E acrescentam que, no campo da não-ficção, os livros franceses são demasiado académicos e não adequados aos leitores de biografias, divulgação científica e história popular que existem aos montes no mundo de língua inglesa. E o problema é que em todo o mundo se lêem cada vez menos livros franceses – em Portugal também – como se fossem papões que metem medo e dão pesadelos. Embora reconheça que a literatura francesa é às vezes bastante exigente, penso que ler de vez em quando um autor mais difícil só nos pode tornar melhores leitores.