Recentemente, ouvi Adriano Moreira elogiar a criação da CPLP e, porque sou tímida quando se trata de intervir em sessões com muito público, não tive coragem para lhe perguntar qual era agora a sua opinião sobre a entrada da Guiné Equatorial na dita comunidade (que eu saiba, lá não se fala português). Já me parece mais simpática a deliberação do Parlamento Galego para que a língua portuguesa seja introduzida no ensino com vista a estreitar laços com a lusofonia, uma vez que galegos e portugueses falam variantes muito próximas de uma mesma língua ancestral. A proposta, que visa introduzir de forma progressiva o estudo do português em todos os níveis de ensino, foi votada, de resto, favoravelmente por todos os partidos com assento parlamentar e terá nascido, o que é ainda mais interessante, no seio da sociedade civil, que conseguiu as assinaturas necessárias para levar o assunto ao Parlamento (deviam estar fartinhos de o castelhano estar a tornar-se a língua dos galegos mais novos, por causa da escola e da televisão). Curioso ainda é o facto de o domínio do português passar a ser tido em conta para a entrada na função pública na Galiza. Os galegos tomarão agora todas as medidas ao seu alcance para que as televisões e rádios portuguesas sejam vistas e ouvidas no seu território com o objectivo de formar os mais jovens (coitados, lá vão ter de levar com as terríveis novelas a toda a hora). É provável que estejam também a pensar nas vantagens da sua relação com o Brasil e Angola, mas lá que a Galiza é muito mais portuguesa que espanhola a falar, isso não se pode negar.
7 comentários
Artur Águas 05.05.2014
Que bom ler galego neste blog ! Há uma doçura na língua galega, e na sua sonoridade, que o português foi perdendo. Essa é que era a grande comunidade a criar: da Galiza ao Brasil, levando Portugal de caminho. Eu, vivendo no Porto e atravessando com frequência as pontes do rio Miño, sonho com uma nação do rio Douro até à Coruña.
Quer, pois, a independência... Antes com os galegos que com o resto dos portugueses. Dá que pensar. Não sei se não é caso para rever critérios acerca das gentes do Porto. Não é. Uma andorinha não faz a Primavera.
Não é antes, é primordialmente. Tanto galegos como nortenhos somos irmanados na desgraça: estamos longe demais de Madrid e Lisboa. Somos esquecidos. Ficamos em segundo lugar (este ano até em terceiro).
Pois...admito que possa haver uma união qualquer entre o norte de Portugal e a Galiza, pelo bastante que têm em comum. Portugal não depende apenas do Norte do país, mas faz-lhe muita falta, e o Porto é uma cidade bonita, antiga, com espírito e respiração de província. E portuguêsa de gema.
Há sempre pelo menos uma certa condescendência da "cosmopolita" Lisboa em relação ao "provinciano" Porto. E é pena porque me parece ser resultado de alguma ignorância e de (injustificada) sobranceria.
Como não sou da cosmopolita Lisboa e sou um provinciano assumido mas esclarecido, sinto-me à vontade para comentar ao Extraordinário Artur aquilo que penso, e vale o que vale:
- Lisboa é uma cidade multicultural, sempre foi e é ainda aquilo que Humprrey Bogart responde a Ingrid B. no célebre Casablanca: Porquê Lisboa? Porque é uma porta para o Mundo. É-o sem dúvida!
- O Porto não é provinciano... como o não são Coimbra nem Faro, ou sequer Aveiro, Setúbal! Provinciana é Santarém, sem dúvida, e outras que não refiro para não ofender ninguém, se bem que não me sinta ofendido por ser provinciano, pois como o referi, presumo-me esclarecido.
- Existe sim alguma sobranceria de certas elites (sobretudo de uma esquerda que se presume culta e portanto superior) sobre os habitantes da província, mas apenas de uma meia-dúzia que o não assume mas pratica. Igualmente existe um grande complexo por parte de alguns habitantes da província, também cultivados e portanto sentindo-se minimizados ao ser relegados para esse conceito de provinciano que não entendem nem assumem, a quem falta todavia cosmopolitismo, quem muitas vezes desprezam a condição e a sua cultura original como quem não gosta da roupa que veste.
No caso concreto do Porto, há uma dose exagerada de bairrismo anti-Lisboa motivada pelo complexo que refiro, e pela falta de atitude, pois a atitude é que conta... tenho muitos amigos do Porto e arredores e este tema é frequente nas nossas conversas. Ou seja há uma elite bem-pensante em Lisboa que se acha o máximo e uma outra elite bem-pensante do Porto que quer ser o máximo... daí o choque "cultural", que a nada leva senão a manifestações bacôcas de parte a parte.
Portugal é um país pequeno, com um diversidade que é no mínimo uma maravilha! Eu sinto um grande prazer e orgulho em fazer parte dessa diversidade, pelo que pratico e defendo a minha cultura provinciana de barrão.
Acho que todos devíamos fazer o mesmo, e talvez assim deixar de ser provincianos, no sentido menos prestigiante do termo.