Mais censura
Comprei recentemente os direitos de tradução para português do romance de uma jovem alemã descendente de russos, romance cuja história se inicia justamente há cem anos, com a Revolução Russa, e termina com o recente golpe de estado (encenado?) na Turquia. Promete, até porque a prosa é moderna e pega nos episódios históricos pelo lado menos esperado. Mas, falando da Turquia, que é o que agora me importa, a verdade é que as coisas estão bastante difíceis para os escritores turcos. Asli Erdogan (que partilha o nome do senhor que manda na Turquia, mas pensa de maneira oposta à dele) foi há uns tempos acordada de uma sesta para lhe revistarem a casa e apreenderem todos os livros que tinha sobre curdos, acusando-a de apoiar o terrorismo. Foi presa, esteve numa solitária, e só cerca de quatro meses depois lhe deram a hipótese de se defender judicialmente. Acabou por ser libertada, mas, se for condenada no final do processo, enfrentará provavelmente a prisão perpétua. Tendo ganho um prémio importante na Alemanha, o Prémio da Paz Erich Maria Remarque (já atribuído a outros escritores activistas como, por exemplo, a bielorrussa Svetlana Alexeievich ou o poeta sírio Adónis), pediu uma licença especial para sair da Turquia, que foi dada, mas os advogados duvidam de que o senhor Erdogan devolva à escritora o passaporte que tem na sua posse. Além disso, Asli é talvez a mais mediática, mas não a única escritora turca a ter problemas – e, ao que dizem alguns observadores, como um membro do P.E.N. Club norueguês, desde o golpe de estado que as coisas só têm piorado para quem escreve.