Mulheres inspiradoras
Pouco importa discutir agora se as obras literárias têm sempre um fundo autobiográfico; algumas têm – e é isso que me traz hoje aqui para falar de várias mulheres de carne e osso que inspiraram personagens de livros de todos os tempos. A primeira é Beatrice Portinari, que Dante viu quando era criança e amou platonicamente o resto da vida, colocando-a em A Divina Comédia como aquela por quem sente um amor que não pode ser terreno e que o há-de guiar ao Paraíso. A heroína de Romeu e Julieta (Giulietta Capuletto) existiu também na realidade e pode ainda hoje visitar-se a sua casa em Verona, o que também acontece com a de Dulcineia (a do Dom Quixote) algures na Mancha. A Dama das Camélias, do livro homónimo de Alexandre Dumas, chamava-se na realidade Marie Duplessis e parece ter sido ela quem inspirou também a ópera de Verdi La Traviata. Quase nem vale a pena mencionar Alice Lidell (a de Alice no País Maravilhas) que Lewis Carroll fotografou e cujo rosto conhecemos bem; e, apesar de Flaubert ter dito que Emma Bovary não era senão ele mesmo, há a suspeita de que existiu uma senhora chamada Delphine Delamare, filha de um grande proprietário de terras francês, que terá inspirado a personagem de Madame Bovary. Há obviamente mais casos, mas fico-me por aqui para deixar os Extraordinários lembrarem heroínas que acabaram nas páginas de romances.