O Nobel que nunca foi
Há uns anos, pediam aos membros do P.E.N. uma sugestão de um autor português que devesse ser candidato ao Prémio Nobel, e o nome do escritor que colhesse mais «votos» era depois encaminhado para o P.E.N. Internacional que, suponho, teria voto na matéria e poderia propor nomeações. Eu puxei sempre a brasa à minha sardinha (de poeta) e indiquei, enquanto foi viva, Sophia de Mello Breyner e, depois, embora soubesse que provavelmente o recusaria, Herberto. Porém – e apesar de a Academia manter em segredo os finalistas em cada ano –, soube-se recentemente (ao fim de cinquenta anos os ficheiros deixam de ser secretos) que o autor português mais indicado para o Nobel terá sido Miguel Torga. Indicado várias vezes entre 1959 e 1962, parece que chegou à final no ano de 1965 – em que o galardão foi entregue a Mikahil Sholokov –, proposto por um professor universitário de Upsala; nesse ano, a acta da Academia refere outros escritores nomeados, como Yourcenar e Borges, Nabokov e Somerset Maugham, Auden e Moravia (como poderia o nosso homem ganhar, digam-me!). Consta da biografia de Torga uma nova nomeação em 1978 (confirmaremos em 2028 se chegou à final), ano em que comemorava 50 anos de carreira literária. Nunca ganhou, como sabemos, e também não viu ganhar Saramago em 1998 por ter morrido três anos antes com a bela idade de 87 anos (pelo menos, não sofreu de inveja). Mas, nem que seja pela quantidade de vezes em que o seu nome foi ventilado, vale a pena voltarmos aos seus escritos.