O que ando a ler
Ora então sejam de novo bem-vindos a esta vossa casa. Espero que tenham passado umas boas festas, que o ano que agora começa vos traga coisas boas e que, claro, tenham podido ler bons livros. Como não tivemos post no dia 1 (eu sei, a culpa é minha), passei para hoje o meu relatório de leitura. Antes das férias estava a falar com um colega sobre os críticos e ele aconselhou-me a espreitar um excelente romance do argentino Ernesto Sabato que tem algumas linhas magníficas sobre a matéria. Chama-se O Túnel. O protagonista é um pintor, Juan Pablo Castel, que, além de ter bastante desprezo pelos críticos de arte (mais ainda pelos que o aplaudem), faz a crónica de um assassínio a partir da cadeia onde está preso; María Irribarne, a mulher que Castel matou, parecia, porém, a única pessoa capaz de prestar atenção a um pormenor de uma tela do pintor. Desde o momento em que a viu espreitar essa cena a um canto do quadro, Castel não descansou enquanto não a conheceu e essa relação tornou-se obsessiva. Depois, as coisas não correram assim tão bem, está visto. Mas o romance é notável sobretudo pela capacidade de dedução e argumentação, pois o seu narrador equaciona sempre todas as possibilidades e esse exercício a que eu chamaria, por vezes, exasperante é também uma prova de inteligência sem limites. A ler, claro.