O que não dizer a um escritor
A escritora britânica Joanne Harris desafiou os leitores do seu blogue a enviarem-lhe frases que fossem simplesmente a última coisa que um escritor quereria ouvir – e houve de tudo, mas a autora seleccionou as que considerou pessoalmente mais irritantes, entre as quais figurava uma, fora do comum, que eu achei divertidíssima: «Desculpe, mas só temos descafeinado.» Em todo o caso, as mais contundentes diziam respeito à ideia que os outros fazem da profissão de escritor e do que, na verdade, é escrever. Ora vejam alguns exemplos: «Para além de ser escritora, o que é que faz?» «Ah, escreve livros? Mas qual é o seu verdadeiro emprego?» «Nunca mais acaba o livro porquê? Caramba, não pode ser assim tão difícil.» «Quando me reformar, também vou escrever um livro.» «Eu também escreveria se tivesse mais tempo livre.» «Que sorte ter uma família que a apoie/sustente.» Num outro patamar, estavam frases um tanto inconvenientes que diziam respeito ao completo desconhecimento da carreira da autora, como «Ah é escritora? E que pseudónimo usa?» ou «Ah, pensei que já tinha morrido». Uma outra questão – a de se achar que os escritores devem fazer borlas, que já tem sido aqui discutida – era levantada pela afirmação «Não lhe podemos pagar nada mas é uma excelente oportunidade para ver o seu nome ligado a uma publicação como a nossa». E, entre muitas outras, gostei da que dizia respeito ao veredicto depois da leitura de uma versão final de um romance: «Até que nem está nada mal para um primeiro rascunho. É um rascunho, certo?» Se conhecer algum escritor, já sabe, há coisas que não lhe deve perguntar.