O senhor do Olimpo
Um colega passou-me uma entrevista bastante interessante concedida ao jornal espanhol El País por Antoine Gallimard, o senhor que manda na editora que leva o seu apelido e que, fundada há mais de cem anos, é uma espécie de Olimpo das letras gaulesas, publicando autores como – só para verem a montra – Proust, Céline, Camus, Cocteau, Saint-Exupéry, Sartre, Duras, De Beauvoir, Simenon, Kundera, e os mais recentes Prémios Nobel da Literatura Patrick Modiano ou Le Clézio. Embora não fosse o primogénito, Antoine bateu-se pela sucessão ao trono (e ganhou); conviveu desde pequeno com escritores – Faulkner, Aragon, Jean Genet (a este último levava envelopes com dinheiro quando era o avô quem estava à frente da empresa, porque ele se recusava a abrir conta num banco). Há mais de trinta anos a comandar a Gallimard, diz que o editor é uma espécie de faroleiro a espalhar luz (literatura) na escuridão, mas que o seu ofício está em vias de extinção porque já ninguém quer realmente ler o que publica. Explica que a geração dos que liam três ou quatro livros por semana desapareceu com a chegada dos «ecrãs» e que no dia em que os editores forem economistas e financeiros tudo terminará. E, ao fim de tantos anos de experiência, revela que nem sempre é bom afeiçoar-se aos autores, pois por vezes estes conseguem ser de uma espantosa ingratidão. A sua «número dois» conta que Antoine Gallimard tem um sangue-frio incrível e que, durante o conflito nos Balcãs, tiveram uma vez de atravessar a frente de guerra num automóvel e que o depósito de gasolina foi atingido; mas ele, assim que percebeu que não podiam fazer nada, adormeceu no banco de trás… A edição não é para todos.