Palavrinhas
Hoje era dia de palavras e expressões em desuso, mas a verdade é que andei a vasculhar uma palavra só e é essa que trago para a vossa extraordinária leitura. Pois bem, trata-se de «antipático», uma qualidade que não chega a sê-lo e faz de quem a tem alguém longe de nós. A palavra «antipatia» deriva do grego «antpathéia», criada pelo prefixo «anti», que não vou explicar o que significa porque todos sabem, e por uma palavra que ainda hoje uso muito, «pathos»; ora este pathos (que falta a tanta coisa que leio diariamente no trabalho) utilizo-o eu como qualquer coisa capaz de gerar ou evocar emoções; mas li algures que este sentido mais lato só lhe é, efectivamente, atribuído desde Descartes, pois antes disso o pathos era o que estimulava uma emoção, sim, mas triste, sobretudo de pena e compaixão (e daí o «patético» que, ao contrário do que muitos julgam, não tem que ver com nada apatetado na acepção de tonto, mas com algo digno de pena – claro que os patetas são dignos dela também). O antipático é, assim, aquele que tem feição contrária à minha, que sente de maneira oposta, fazendo do simpático o que sente como eu (em inglês sympathetic é solidário) e do apático o que não sente, pura e simplesmente. Mas este pathos mais antigo, ligado ao sofrimento, é curiosamente também a raiz da palavra «patologia» que hoje associamos à doença. A doença é, pois, coisa triste, sofrida e digna de pena, o que, de resto, faz todo o sentido; e, em última análise, também um grande sofrimento moral pode tornar-se uma doença, o que, aliás, Freud já sabia muito antes desta época em que a depressão é frequentemente tratada com químicos, tal como a gripe ou a diabetes. Isto para dizer que, quando encontrarem alguém antipático, essa pessoa, mesmo que em sofrimento, não vos vai parecer digna de pena…