Pecados mortais
Hoje mesmo estará disponível nas livrarias portuguesas um romance cheio de personagens admiráveis que mostra que, por mais que fujamos do passado, ele continuará a perseguir-nos e poderá bater-nos à porta quando menos esperamos. O Pecado de Porto Negro, de Norberto Morais, tem como cenário uma ilha inventada, a piscar o olho a Cuba, e passa-se no princípio do século XX, não muito depois de ter terminado a escravatura e de os ilhéus se terem livrado do último governador branco. Santiago, o protagonista, é o sedutor nato que adora mulheres, especialmente as feias, e não desistirá de desencaminhar a virgem Ducélia Trajero, a filha que o açougueiro de Porto Negro guarda como um tesouro inviolável e que o funcionário do açougue – uma criaturinha desprezível – julga, sabe-se lá porquê, estar-lhe destinada. Mas em terras de clima quente os pecados, carnais e não só, sucedem-se a um bom ritmo – como, aliás, o do romance – e a vida de todos os aqui referidos e de muitos outros há-de sofrer inesperadas metamorfoses, podendo a penitência cumprir-se, por exemplo, num bordel, onde, além de um leque variado de prostitutas com histórias deliciosas, um mulato efeminado terá um papel determinante nos destinos de uns quantos. Finalista do Prémio LeYa no ano passado, O Pecado de Porto Negro lê-se de um fôlego apesar das suas muitas páginas e guarda surpresas espectaculares até ao fim.