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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

18
Out17

Perto e longe

Maria do Rosário Pedreira

Quando um vizinho recém-chegado se atirou da janela no prédio da minha mãe, mesmo sem o conhecer, ela ficou traumatizada por muito tempo. Se o proverbial sexagenário for atropelado na minha rua faz-me mais impressão do que se o tiver sido noutro lado? É possível. O atentado no Bataclan, em Paris, ou naquela rua larga em Nice, ou nas Ramblas, em Barcelona, está suficientemente perto, em termos sentimentais, para me causar mais mossa do que as centenas de mortes anónimas nos desastres ferroviários da Índia ou causadas por cólera e ébola em África. Aqui na Europa achamos que a América (os EUA, quero dizer) é também um bocadinho nossa e sentimos as mortes do 11 de Setembro como qualquer coisa de próximo. Em termos emocionais, os conceitos de perto e longe nem sempre têm que ver com distâncias reais (os mineiros do Chile nunca deixaram os nossos corações, enquanto choramos os mortos dos nossos incêndios mais recentes sem nos lembrarmos dos 300 mortos na Somália na mesma data). Mas pode ser uma geografia bastante injusta… Leio um artigo de Han Kang no The New York Times sobre os perigos de uma guerra entre os EUA e a Coreia do Norte, coisa, aliás, que nos deveria preocupar a todos nestes tempos malucos. Se essa guerra realmente eclodir, há uma probabilidade de morrerem 20 000 sul-coreanos por dia enquanto durar o conflito… Mas, segundo Han Kang, nos EUA diz-se apenas: «Don’t worry, war won’t happen in America. Only on the Korean Peninsula.» Ou seja, longe da vista, longe do coração. Talvez o artigo me tenha tocado de maneira especial por eu ser agora a editora dos livros de Han Kang e ter passado a ter um laço com a Coreia do Sul. No entanto, chamo a atenção para este belo e lúcido texto da autora de A Vegetariana e Atos Humanos. Para desfazer distâncias.

 

https://www.nytimes.com/2017/10/07/opinion/sunday/south-korea-trump-war.html

 

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