Pobres escritores
Tenho aqui referido várias vezes que Portugal, pela exiguidade do seu mercado, é um país onde é terrivelmente difícil viver da escrita (a menos, claro, que se seja uma estrela de TV transformada em escritor, mas os casos contam-se pelos dedos de uma mão). Porém, ao que parece, também nos países onde o mercado é substancialmente maior as coisas não andam de feição para quem escreve. Leio no Guardian um artigo que me informa de que, nos EUA, os rendimentos dos escritores desceram 30% em cinco anos (entre 2009 e 2014) e que muitos dos chamados «autores em full time» estão a receber mensalmente um valor que raia o limiar da pobreza. No entanto, não se vendem menos livros do que antes, a razão é diferente. Não só o aparecimento do digital favoreceu a pirataria (circulam pela net milhares de livros pelos quais os autores não recebem quaisquer direitos, tal como acontece, de resto, com filmes), mas também empresas dominantes como a Amazon levaram ao fecho de muitíssimas livrarias tradicionais, incapazes de concorrer com esses gigantes que, usando o seu poder, obrigaram os editores a aceitar condições que nunca aceitariam se não soubessem que, actualmente, sem a Amazon, iriam à falência. E essas condições leoninas passaram também do editor para o autor, que passou a receber menos direitos, sobretudo em edições que praticamente não têm custos, como os e-books, o que a Authors Guild considera profundamente injusto. Em Portugal, as vendas de e-books ainda não ameaçam o livro em papel, mas já existe bastante pirataria e é preciso estar muito atento ao que o futuro trará.