Policial real
Eu cá acho que uma história ligada ao desaparecimento de editores e livreiros numa determinada cidade daria um bom policial, mesmo que não consiga dizer assim de repente quem poderia ser o responsável por essa «evaporação» (dependeria da cidade, claro). No entanto, a história não é nenhum enredo de um autor imaginativo , mas um facto infelizmente bem real. Uma editora de Hong Kong – até há pouco tempo um dos lugares mais «livres» e «a salvo» na China – especializou-se na publicação de livros provocadores sobre algumas figuras gradas de Pequim, denunciando, por exemplo, os gastos das elites no poder. E, como numa história policial, os seus donos e funcionários têm vindo a desaparecer de forma misteriosa. O primeiro – co-proprietário da editora – levantou a suspeita de que a sua ausência não fora voluntária ao deixar na mesa da cozinha uma caixinha com os remédios que tomava diariamente, já separados por refeições, e ao comprar nesse dia alimentos perecíveis, o que não faria sentido se fosse de viagem. A suspeita foi confirmada quando, depois dele, sumiram outros três responsáveis da editora em seis dias apenas, qualquer deles supostamente durante uma viagem à China continental. Entretanto, as famílias receberam telefonemas estranhos dos desaparecidos, que lhes explicaram, em termos muito vagos, que estão a ajudar numa investigação em Shenzhen; mas, como um deles falou mandarim em vez de cantonês, o que não é habitual, a mulher percebeu ser um sinal de que havia coisa, sobretudo porque o passe que permitiria ao marido viajar de Hong Kong para Shenzhen ficara lá em casa. Pois bem, em Hong Kong já perceberam o que aconteceu e milhares de pessoas manifestaram-se para pedir a libertação dos editores. Não está de fora a possibilidade de um conflito envolvendo mais países, até porque um dos desaparecidos é cidadão sueco e outro tem passaporte britânico. Veremos o que acontece. Parece de filme.