Poesia versus prosa
Embora os dois géneros literários se toquem frequentemente (e muitos romancistas tenham uma escrita surpreendentemente poética, enquanto alguns poetas são narradores não especialmente líricos), a verdade é que nem sempre os leitores gostam igualmente de poesia e prosa. A confirmá-lo está, de resto, a notícia um tanto absurda de que houve recentemente na Rússia um homicídio (uma morte que envolveu numerosas facadas e consequente sangramento) por causa de uma discussão que tinha como tema justamente a poesia e a prosa. A vítima, de 67 anos, terá emitido a opinião de que a única forma literária digna desse nome era o romance; e, ao ouvi-lo, o assassino, um ex-professor de 53 anos amante incondicional de poesia, ter-se-á irritado ao ponto de esfaquear o oponente, deixando-o pronto para a sepultura (1-0 para a poesia) e fugindo do local, tendo sido detido apenas três dias mais tarde. Faltou dizer, claro, que ambos estavam num bar – e, ao que consta, muitíssimo bêbados; e que noutro bar, uma semana antes, divergências sobre as teorias de Immanuel Kant também já haviam feito uma vítima de disparo de arma de fogo (embora não mortal). Defender um ponto de vista é coisa que aprecio, contra uma certa apatia e o medo de assumir posição. Gosto muito, aliás, de ver como os extraordinários comentadores deste blogue dão opiniões e reagem às minhas e às dos outros leitores. Mas, copos à parte, não creio que seja preciso ir tão longe...