Preconceito?
Desde que me tornei editora de autores portugueses, publiquei vários géneros de romance, entre os quais aquilo a que se chama vulgarmente romance histórico. Mas, quando tento fazer uma espécie de retrospectiva, reparo que as obras dessa, digamos assim, tipologia são as que menos críticas receberam da nossa imprensa. Tenho consciência de que alguns desses livros não apresentavam grandes inovações estilísticas – assumindo-se como ficções informadas à roda de episódio ou personagem histórico, mas sem voo literário; mas existem outros que, partindo de determinado facto ou tempo histórico, são tão ou mais inventivos em termos de voz ou estrutura do que os romances que não usam a história como pretexto – e pergunto-me se bastará aos recenseadores olhar para uma capa com gravura antiga ou ler uma sinopse referindo um tempo passado para os afastar da leitura e os levar a acreditar que dali não vem decerto literatura a sério. Será um preconceito, dado que existem muitos romances históricos levezinhos, sem alma, escritos por autores que apenas usam a ficção para dar informações a quem não sabe? Será porque a História pareça a quem faz crítica um pretexto para escritores sem imaginação? Que diabo! Publiquei este ano dois livros belíssimos, Mal Nascer, de Carlos Campaniço, e O Pecado de Porto Negro, de Norberto Morais, e não vi quase ninguém escrever sobre eles, sendo que um crítico que se deu ao trabalho de ler o último afirmou que era um dos melhores romances históricos publicados desde sempre em Portugal. A história e a literatura não podem andar de mãos dadas, que logo vem alguém desconfiar do casamento?